domingo, 7 de outubro de 2012

Passistas: Menos maquiagem e mais personalidade, aprendendo com Sargentelli

Passistas e aspirantes devem ao menos conhecer o trabalho de Oswaldo Sargentelli, um botafoguense conhecido como o Rei das Mulatas. Ele exaltou a mulata divulgando-a Brasil afora e no exterior - não há de esquecer-se que foi criticado sob a alegação de explorar as mulatas (assunto que pode ser discutido), mas pela primeira vez negras e mulatas eram o centro das atenções em um show - e isso no fim da década de 60, em meio à ditadura militar. Fazer parte do seu grupo era semelhante ao que sente hoje uma passista integrante do grupo show de sua escola.



Sargentelli dizia: "Cintura fina, coxa grossa e bunda grande e na sua maioria doutoradas pelo Mobral". E por isso, segundo ele, a sua maior preocupação era dar personalidade às suas mulatas. Lição que pode ser seguida até hoje por aquelas que querem se destacar na concorrida arte de sambar. Beleza corporal não basta, isolada no samba não serve de nada, é preciso que venha acompanhada de personalidade, elegância e graça. E ainda nem falamos de "samba no pé"... "Em cena", uma mulata/passista deve representar uma verdadeira dama, a leveza é indispensável. Eram escolhidas a dedo, sempre as mais bonitas, com corpos impecáveis. Depois de escolhidas ele mesmo se encarregava de prepará-las. Dele também é a frase: "Mais espelho, menos maquiagem". Para ele se usava maquiagem demais para disfarçar falta de beleza e de talento.



O famoso mestre das mulatas acreditava que a disciplina era o primeiro passo - a primeira lição não era a de sambar, mas sim a postura, as boas maneiras, a imagem - o que ia distinguir uma mulata "bailarina" ou "sambista" das demais. Passistas são artistas, e devem ser preparados como qualquer outro artista. Não se nasce passista, pode-se nascer com o dom ou com uma inclinação para a arte de sambar, mas deve haver uma formação. 



Há profissionais que dedicam seu tempo para oferecer essa formação aos que querem realmente serem passistas profissionais, artistas verdadeiros - muitos deles só recebem em troca a satisfação de um trabalho bem feito. Esse trabalho é feito em muitas escolas de samba, com destaque para Salgueiro, Portela, Mocidade e Império Serrano. Mas ainda há aqueles que se julgam diretores de ala sem o menor preparo ou experiência para isso, às vezes com boas intenções, às vezes buscando mera promoção pessoal e comprometendo o resultado final e o nome da escola. Dirigir uma ala não se resume a definir roupas, calçados ou escolher sob sei lá quais critérios quem fará parte do grupo, o diretor é responsável pela formação desses passistas. Samba é arte e precisa de profissionais preparados.